Editorial

Empurrados para o SUS

Desde que a crise econômica se acentuou no País, ainda antes da pandemia, pouco a pouco a rede pública de saúde passou a sentir os efeitos. Realidade que tornou-se ainda mais severa a partir do momento que o coronavírus exigiu sacrifícios de isolamento que, uma vez adotados, foram responsáveis por salvar milhares de vidas, segundo os mais respeitados epidemiologistas do Brasil e do Mundo, mas que provocou ainda mais dificuldades sociais, com perda de renda de trabalhadores que não tiveram o privilégio de manter atividades em home office ou de terem seus postos mantidos pelas empresas. Sem contar, ainda, empreendedores que viram o faturamento - e a renda - despencar. Na hora de cortar despesas, em muitas famílias acabou sobrando para os planos de saúde.

Segundo levantamento feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2020, à época pelo menos 327 mil brasileiros haviam deixado de pagar um plano de assistência médica e passado a depender do Sistema Único de Saúde. Consequentemente, recaiu sobre essa rede a tarefa de dar conta da demanda, que já era uma das maiores da história do SUS por conta do vírus.

No outro lado desta ponta, as operadoras de planos também passaram a alegar pressão crescente e prejuízos. Além da perda de clientes e alguma inadimplência, tiveram que prestar assistência crescente àqueles que permaneciam entre seus segurados. Não só no pico da crise sanitária, mas continuando na etapa de pandemia mais controlada. A alta na procura foi tão grande que, de uma média de 85% de taxa de sinistralidade, chegou a atingir 93,2% em 2022. Ou seja, a cada R$ 100 de custo das operadoras, R$ 93,20 foram para custear atendimentos de pacientes.

Frente a isso, a pressão das empresas foi para que tivessem autorização para reajuste nos valores dos planos. No que foram atendidas. Em 2022, a alta autorizada pela ANS foi de 15,5%. Agora, em 2023, a Agência confirma um novo acréscimo para os planos individuais e familiares, desta vez de 9,63%. O que atinge cerca de oito milhões de pessoas seguradas, o equivalente a 16% do total de cidadãos com planos de assistência médica.

No meio disso, enquanto os planos privados tentam resolver seus problemas de caixa, o consumidor destas modalidades terá que arcar com mais um peso no orçamento familiar. Ou, no caso de não conseguir dar conta, será empurrado como mais um dependente do SUS. Este sistema que, com todos os seus problemas e virtudes, é responsável por não deixar (ou ao menos tentar não deixar) ninguém desassistido. Tenha esse cidadão dinheiro ou não.

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